“O Brasil é visto como um país de grande potencial no que diz respeito à economia digital.”
É assim que o país é apresentado na primeira edição do Brazil Digital Report, realizado pela empresa de consultoria empresarial estadunidense McKinsey & Company, no segundo trimestre deste ano, a partir de informações públicas, além de dados da própria empresa.
O relatório traz um panorama da economia brasileira do ponto de vista da inovação e do seu ecossistema empreendedor. Elenca, assim, as diversas e empolgantes oportunidades de inovação, contrapondo-as aos desafios para aumentar a produtividade, o crescimento e avanços sociais.
Nesse artigo, vamos ver quais são os pontos favoráveis e os empecilhos à transformação do Brasil em uma potência em economia digital.
O relatório aponta que a economia brasileira chegou um ponto de inflexão em relação à crise dos últimos anos. A volta do crescimento do PIB, soma-se nesse momento ao aumento da confiança do consumidor e do empresariado.
Outros pontos positivos elencados foram a inflação baixa e controlada e os juros, no patamar mais baixo da história. Além disso, desde 2016 para cá, o risco país caiu significativamente, o mercado de capitais está mais ativo do que nunca e a Bovespa atingindo os patamares mais altos, historicamente.
Mas para acelerar o crescimento e avançar em outras áreas, o Brasil precisa preencher algumas lacunas tanto em relação tanto aos países desenvolvidos como aos emergentes.
Principalmente no quesito produtividade, onde o país cresceu muito pouco nas últimas três décadas, apenas 1,3%, contra 8,8% da China e 5% da Índia, 3% do Chile e 1,9% dos Estados Unidos.
Tendo em vista o fim do crescimento demográfico expressivo e, por consequência, da força de trabalho, o desenvolvimento econômico deverá ser conduzido por ganhos de produtividade.
No entanto, o relatório aponta que ainda falta inovação, o número de patentes é baixo, e ainda que haja mão de obra qualificada, isso não se reflete em aumento da produtividade.
Um grande diferencial do Brasil está, entretanto, nas características de consumo da população.
Mais de dois em cada três brasileiros têm acesso a smartfones e à internet, sendo que esse número dobrou em dez anos. Em média, gastamos mais de nove horas por dia conectado, uma das taxas mais altas do mundo.
O país ocupa a segunda ou a terceira posição no ranking dos que mais utilizam as principais plataformas de mídia social, como Facebook, YouTube, Netflix, WhatsApp e Pinterest.
A publicidade digital cresceu em média 24% ao ano de 2013 a 2018, e o e-commerce, na média de 13% ao ano entre 2013 e 2017.
Embora as características culturais do Brasil sejam pontos positivos, o acesso à Internet e a qualidade variam muito entre regiões, classes sociais e grupos etários.
A velocidade da Internet é mais baixa do que nos países desenvolvidos e emergentes e a penetração do e-commerce também. Existem categorias inteiras de comércio que não incorporaram a tecnologia digital.
O relatório ressalta que cada vez mais startups estão promovendo a inovação digital e afirma que o ecossistema de empreendedorismo é vibrante por todo o país.
Para se ter uma ideia, o número de FinTechs saltou de cerca de 50 em agosto de 2015 para mais de 400 em agosto de 2018, em um crescimento de 96% ao ano.
Os investimentos em startups continuam crescendo a dois dígitos a cada ano e superaram a marca de US$ 1 bilhão no último ano.
O relatório aponta ainda como vantagem o fato de aproximadamente 40% da população economicamente ativa trabalhar em empreendimentos próprios. No entanto, ressalva que apenas uma pequena parcela dos empreendedores volta o seu negócio para a inovação.
Algumas barreiras para o crescimento resistem ao tempo. O Brasil continua sendo um dos países mais custosos e difíceis para se abrir e manter uma empresa. Além disso, há uma grande dificuldade de recrutar e capacitar mão de obra para trabalhar pensando no mundo digital.
Ainda que seja bastante concentrado – com os cinco principais bancos representando mais de 80% do mercado – o setor financeiro oferece bastante espaço para inclusão financeira.
A área continua atrativa no Brasil, com os ativos crescendo mais rapidamente do que o PIB, a inadimplência sob controle, a redução do custo para a receita, o crescimento estável do lucro e o retorno sobre patrimônio líquido, ou ROE, de 14%.
O setor de seguros também tem crescido em ritmo acelerado, a uma taxa de 9% ao ano, desde 2012.
E o cenário tende a continuar bastante promissor. O relatório indica que em comparação aos países desenvolvidos, o Brasil tem uma baixa penetração de quase todos os produtos financeiros, incluindo contas bancárias, crédito, especialmente, de longo prazo, investimentos e seguros. Estima-se que um quarto da população economicamente ativa não possui conta bancária.
Por outro lado, mais da metade dos clientes bancários são usuários ativos online ou de banco móvel, e mais da metade das transações bancárias são eletrônicas, o que demonstra certa facilidade para incorporar a tecnologia digital no dia a dia.
Ainda assim, o Brasil ainda é um lugar de grandes desafios, mas também de oportunidades. O gosto da população pelas tecnologias digitais e a sua inventividade certamente poderiam ser melhor aproveitados com mais incentivos e orientação. Mas será que sem elas, o empreendedorismo consegue transformar o país pra valer?
Fonte: McKinsey & Company