A WeWork é a maior empresa de coworking do mundo em faturamento. No seu primeiro ano, em 2014, ela arrecadou US$74 milhões, e fechou 2018 com uma receita de quase dois bilhões de dólares. Porém, apesar de todo esse crescimento, ela teve um IPO cancelado em setembro: a primeira oferta de ações da WeWork não encontrou investidores e a venda de ações na bolsa de Nova Iorque foi postergada indefinidamente.
A falta de interesse se deu, entre outros motivos, por conta do crescente prejuízo que a empresa acumula ano a ano. Assim como sua receita, as dívidas têm mais que dobrado desde a sua fundação. Em 2016, a companhia fechou o ano devendo US$ 429 milhões; no ano seguinte, foram US$ 860 milhões; e em 2018, o prejuízo foi de US$ 1.6 bilhão. Apesar disso, a empresa continua expandindo a sua presença global. Inicialmente, ela possuía escritórios apenas em Nova Iorque. Hoje já se encontra escritórios coletivos da WeWork em 123 cidades de 37 países do mundo inteiro.
Mas como uma empresa que fecha sempre no vermelho consegue crescer tanto em tão pouco tempo? Isso significa que esse modelo é sustentável e pode ser aplicado para a sua empresa?
Não. Existem alguns fatores que podem explicar a duração da WeWork no mercado.
Esse modelo de negócios com grandes crescimento e prejuízo é muito comum em empresas chamadas de unicórnios – terminologia comum para se referir à startups, cujo valor ultrapassa US$ 1 bilhão. Além do valor acima da marca e da “digitalidade”, o que empresas como Uber, Nubank e WeWork (além de diversas empresas digitais que competem por atenção dos usuários nas telas de seus celulares) têm em comum são os constantes prejuízos enquanto o número de usuários continua a crescer. Em 2018, a Uber teve mais de US$ 1,8 trilhão de prejuízo. O Nubank fechou o ano com caixa negativo em R$ 100,3 milhões.
Todas elas garantem sua sobrevivência a partir de rodadas de investimentos. A cada rodada, elas são avaliadas em um valor mais alto e conseguem mais fundos que serão usados para bancar o crescimento durante o período e pagar aos investidores das rodadas anteriores. O último passo seria a venda de ações da empresa, onde os investidores que entraram na última rodada poderiam lucrar. Isso se torna um ciclo vicioso, muito próximo das pirâmides financeiras — esquema financeiro que depende constantemente do recrutamento de novos membros para continuar funcionando; nele, apenas os primeiros a aderir conseguem lucrar e todos os outros sofrem prejuízo.
No caso da WeWork, há um investidor comum em todas as rodadas e que tem garantido o funcionamento da empresa: o grupo Softbank. Depois do IPO falho em setembro, o SoftBank fez outro aporte para o WeWork de mais de US$ 1,5 bilhão. Junto com o anúncio do investimento, o grupo tomou controle da empresa e anunciou mudanças na governança da empresa e de negociações de dívidas, que já chegam a US$ 5 bilhões.
Essa não é a primeira vez que o SoftBank injeta dinheiro no WeWork. No início do ano, o fundo de investimento aplicou US$ 2 bilhões para que ela se preparasse para a ida à bolsa. Em 2018, o grupo também fez vários aportes para empresa, garantindo o aumento do valor de mercado e a continuação do seu funcionamento.
O investimento feito em janeiro pelo SoftBank era dez vezes maior, mas foi reduzido após prejuízos. O grupo também anunciou perdas de US$ 6.5 bilhões após a falha do IPO. Esse modelo de empresas que estão sempre vivendo no prejuízo e dependendo de investimentos cada vez maiores não é sustentável para todos. É como se uma pessoa física vivesse estourando o cartão de crédito e pegando empréstimos cada vez maiores para sanear a dívida.
Em algum momento, a fonte de dinheiro vai secar e a empresa ficará em maus lençóis. É preciso que as empresas passem a gerar lucro para escapar da morte provável, em vez de manter as portas abertas com o dinheiro injetado por bancos e outros investidores.