Taxas, índices, câmbio e commodities
Os debates envolvendo a entrada da Ucrânia na Otan voltaram a ganhar tração após a eleição em 2019 de Zelenski, atual presidente ucraniano, o que gerou reações da Rússia e a defluência da guerra. O avanço das tropas russas sobre a Ucrânia gerou uma reação internacional com uma série de sanções, e possíveis impactos na economia do Brasil.
Com economias globalizadas, os conflitos externos são cada vez mais relevantes para reforçar cenários de inflação e alta nos juros de países não diretamente envolvidos, e com o Brasil não é diferente, e tende a ser economicamente afetado, especialmente neste momento em que a inflação e juros já estão elevados no país.
A Rússia está entre os maiores produtores de petróleo do mundo, com capacidade para produzir mais de 10 milhões de barris por dia. Com as primeiras notícias do conflito, os preços do petróleo se precificaram, alcançando o maior patamar em sete anos. Em nosso principal índice de inflação (IPCA), os combustíveis são os componentes de maior peso (cerca de 4%, somando gasolina, etanol e diesel). Isto significa que um aumento de 10% no preço da commodity, resulta em 0,4 pontos no percentual do IPCA.
Frente a um cenário inflacionário, normalmente os Bancos Centrais elevam suas taxas de juros, mas em uma situação de guerra isto é mais incomum. Os BCs reduzem a necessidade de elevação da taxa de juros com o objetivo de fazer a economia girar durante períodos de maior recessão.
Anteriormente ao conflito, o Bacen deu sinal de que diminuiria o ritmo de alta de juros. Apesar das mudanças de cenário, no entanto, é possível que o Banco Central mantenha os ajustes do primeiro semestre conforme o previsto.
Em um momento de tensões de guerra e aversão a risco, o movimento natural é que os investidores saiam de Bolsas emergentes e ativos de risco (ainda que a situação possa dar relevância para ações como Petrobrás), e uma busca por dólar e ouro aumentem, na busca por ativos mais seguros.
Além das questões acerca do petróleo, milho e trigo também impactam o mercado das commodities.
Ucrânia e Rússia, juntas, correspondem por quase um terço das exportações globais de trigo (28%) e um quinto das exportações de milho (18%), e mais da metade é exportada (54%). O cenário de guerra pode impactar na oferta global destes ativos e, consequentemente, o valor destas commodities, em alta desde o início do confronto armado.
Apenas 2% do trigo importado no Brasil origina-se da Rússia e Ucrânia. Segundo avaliação do Itaú BBA, poderíamos enfrentar preços mais altos de importação, mas não a sua indisponibilidade.
Uma possível interrupção da Rússia no fornecimento de petróleo seria capaz de reduzir o PIB global em 2022, tamanha sua representatividade no mercado global. Segundo o relatório do banco suíço UBS, “Se os preços do petróleo subirem para US$ 125 ou mais por dois trimestres seguidos, isso resultaria em uma retração de 0,5% no PIB global”. Em um cenário mais extremo, para analistas do banco, a interrupção do fornecimento do petróleo russo aumentaria os prêmios de risco, diminuiria a expectativa de retornos globais e isso poderia desencadear instabilidade duradoura para o mercado de equity.
Em suma, em qualquer situação de guerra é esperado um aumento expressivo de preços. Para alguns especialistas, todos esses fatores apontam em uma só direção: os preços deverão subir ou, na hipótese mais otimista, permanecerão elevados nos patamares atuais por algum tempo.
Fontes: Infomoney, Valor, Estadão