O mundo pode estar globalizado em diversos contextos, mas especialmente para empresas globais, o enigma do gerenciamento da tesouraria central versus local parece não ter fim.
Políticas coerentes em todos os mercados e uma execução centralizada garantem a eficiência do controle da tesouraria e também reduz os custos. Mas o que desafia a padronização dos processos são os requisitos específicos de alguns países, onde a uniformização das relações bancárias, hedging, gestão de caixa e facilidades de crédito podem ser comprometidas.
Uma organização com crescimento acelerado pode admitir que em cada país a empresa seja administrada como um negócio independente. Neste caso, a centralização da tesouraria poderia engessar os processos, tornando-se um obstáculo para o seu crescimento. Já, para empresas que necessitam otimizar o caixa e reduzir a dívida, a visibilidade ampla de caixa é determinante para cumprir com os seus objetivos.
Este ponto foi questionado no painel “O Enigma Sem Fim: Gerenciamento da Tesouraria Central Versus Local”, na EuroFinance, em conferência sobre o gerenciamento internacional de tesouraria, caixa e riscos para empresas no Brasil. Neste painel, empresas com diferentes pontos de vista e estratégias compartilham sua experiência na América Latina.
As multinacionais estão sempre favoráveis aos procedimentos centralizados e às políticas e processos globais, no entanto, o impasse se dá em aderir às políticas mundiais, com tantas burocracias locais. A principal preocupação de multinacionais que seguem a centralização das diretrizes dos seus grupos empresariais, como ThyssenKrupp e Saint-Gobain, por exemplo, concentra-se especialmente na conformidade e na padronização dos seus processos em determinados países em que atuam.
“O nosso processo de gestão centralizada começou ainda em 1998, com a parte de caixa. Toda a relação com bancos é central, seguindo a matriz. Só contratamos bancos locais para cash management.”
Cita Claudio José de Souza Rosa,
Diretor financeiro adjunto da Saint-Gobain
Já, as empresas globais que seguem direcionamentos estratégicos independentes, por compreenderem as particularidades locais, ao criar um processo descentralizado, os dados e suporte são compartilhados a fim de manter um padrão, mas sem imposição, como é o caso da cliente Gesplan, Accor.
“As tesourarias de cada país na América Latina são independentes. Sempre que criamos algum processo local, compartilhamos com a França, além de dividir dados e dar suporte uns aos outros, mas sem perder a percepção das especifidades locais.”
Claudio Taka,
Gerente financeiro e de tesouraria do Grupo Accor
Dentre os prós e contras do modelo de tesouraria centralizado, o alinhamento da direção estratégica é a vantagem mais importante para a companhia que o adota, além da centralização trazer ganhos em escalas e otimizações. Para Souza Roza, da Saint-Gobain, por exemplo, um dos grandes ganhos deste modelo, é poder selecionar em cada país os melhores processos de gerenciamento e difundir as melhores práticas para o grupo. Por outro lado, impõe grandes desafios: as perdas na produtividade operacional podem ocorrer, com um ritmo desacelerado devido ao excesso de processos burocráticos, além das questões culturais e transparência da comunicação. Vale a cada grupo esta ponderação, ou enfrentar os desafios de adaptar as estratégias do grupo para a realidade local.
Fonte: Eurofinance