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Incertezas na economia pedem maior Planejamento

23 Abril 2019

Ao final do primeiro trimestre, o otimismo com o desempenho da economia brasileira se transformou em cautela. Após cinco semanas de queda consecutiva, a expectativa de crescimento para o PIB de 2019 foi reduzida para menos de 2%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. Foi a primeira vez em dois anos que a projeção ficou abaixo desse patamar. A decepção foi provocada pela demora em aprovar uma Reforma da Previdência, tida como principal medida para o governo controlar o déficit fiscal e reequilibrar as contas públicas brasileiras a médio e longo prazo. Os indicadores econômicos divulgados recentemente reforçam a necessidade de um maior planejamento para trilhar este cenário.

Confiança do Empresariado

Nesse início de ano, os índices de confiança produzidos pelo Ibre/FGV, apontam para o aumento da insegurança tanto por parte do empresariado quanto por parte do consumidor. O ritmo lento da economia e a manutenção de níveis elevados de incerteza econômica explicam a queda do Índice de Confiança Empresarial (ICE). Em março, ele chegou a 94 pontos, o menor nível desde outubro de 2018. Desde janeiro, a baixa acumulada é de 3,5 pontos, sendo 2,7 pontos somente ante fevereiro.

Em todos os setores pesquisados (indústria, comércio, construção e serviços), a confiança recuou significativamente no mês de março. O Itaú BBA avalia que, caso não seja revertida nos próximos meses, a queda da confiança do empresário pode provocar desaceleração na criação de empregos e, consequentemente, no crescimento do PIB. Segundo analistas do banco, o nível atual do ICE em 94 pontos condiz com a criação no em torno de apenas 20 mil de vagas por mês. Nesse ritmo, o crescimento anual do PIB seria de apenas 0,8%, segundo a estimativa do banco. Para se ter uma ideia, em janeiro deste ano, quando o ICE estava em 97,5 pontos e a geração de emprego correlata, em 44 mil por mês, o crescimento estimado do PIB seria de 1,7%, pela mesma análise.

Confiança do Consumidor

Também é a incerteza econômica que explica a redução no Índice de Confiança do Consumidor. Em março, ele fechou em 91 pontos, o menor valor desde outubro de 2018, acompanhando o marco da baixa na confiança do empresariado. No acumulando dos últimos dois meses, a perda foi de 5,6 pontos, sendo de 5,1 pontos ante fevereiro.

Na avaliação do Santander, a economia não deve ser impulsionada pelo lado do investimento até que haja uma normalização do cenário político. No entanto, o banco indica que há espaço para estimular o crescimento econômico pelo lado do consumo, sobretudo pela expansão do crédito, que hoje tem mais condições favoráveis devido à inflação baixa e controlada e os juros também baixos. Na percepção do Santander, desde meados de 2018, verifica-se uma expansão do crédito principalmente no crédito imobiliário direcionado às famílias.

Produção Industrial

No lado real da economia, a atividade da indústria nacional também patina e cresce em ritmo lento. No índice acumulado para janeiro-fevereiro de 2019, frente a igual período do ano anterior, a indústria caiu 0,2%, segundo dados do IBGE. O relatório destaca que, desde agosto de 2018, o setor industrial apresenta uma trajetória predominantemente descendente. Destaque-se, no entanto, que a produção industrial em fevereiro foi puxada para baixo pelo desempenho negativo das indústrias extrativas como consequência do rompimento da barragem na região de Brumadinho (MG). A queda de 14,8% foi a maior desde 2002, início da série histórica. Ainda assim, o resultado de fevereiro ante janeiro foi positivo em 0,7%, na série com ajuste sazonal, eliminando a queda de 0,7% do mês anterior.

O Bradesco destaca que, apesar da queda expressiva da indústria extrativa, outros segmentos também têm apresentado resultados fracos. Apenas os bens duráveis, com destaque para a indústria automobilística, têm mostrado alguma aceleração. Na análise do banco, “os poucos dados já conhecidos de março sugerem o fraco desempenho do primeiro trimestre, o que tem sido reforçado pela desaceleração dos níveis de confiança de empresários e consumidores nos últimos meses”. Com essa avaliação, o Bradesco projeta uma queda de 0,1% para o PIB do 1º trimestre. O banco ressalva que esse resultado inclui um comportamento mais positivo do consumo das famílias.

Cenário Externo

Outro setor que dá mostras de desaceleração é o comércio exterior. Segundo os dados do ministério da Economia, nos três primeiros meses deste ano, a balança comercial teve superavit 11,1% menor do que no mesmo período de 2018, e chegou a US$ 10,8 bilhões. O volume total comercializado também recuou, em 2%, em relação ao primeiro trimestre do ano passado, contabilizando US$ 95,1 bilhões. Além de um volume de dinheiro menor, a qualidade das exportações também piorou. Houve o crescimento de 8,7% na venda de produtos básicos, e queda de 9,8% nas exportações de manufaturados e de 3,5% na de semimanufaturados.

Diante de disputas comerciais criadas pela postura política anti globalização de alguns países, o FMI reduziu em 0,2 p.p. a sua previsão de crescimento para a economia mundial em 2019, que passa a ser de 3,3. A recuperação precária nos mercados emergentes também é apontada como motivo da desaceleração da atividade econômica em âmbito global. Para o Brasil, a projeção atual de crescimento do PIB caiu de 2,5%, em janeiro, para 2,1%, em abril. A principal prioridade é “conter o aumento da dívida pública, garantindo simultaneamente que as despesas sociais necessárias permaneçam intactas”, diz o relatório.

O Planejamento é necessário

Não é novidade que o maior problema do país seja de natureza fiscal. O que não se esperava é que se fosse ter tantas dificuldades para tratar de um problema tão urgente. Enquanto as negociações sobre a Reforma da Previdência patinam no Congresso, o governo tenta melhorar o ambiente de negócios com medidas microeconômicas de alcance limitado, mas que devem reduzir a burocracia e melhorar o ambiente de negócios. Se as incertezas econômicas são enormes do lado de fora das empresas, do lado de dentro, o planejamento estratégico e financeiro parecem ser o melhor caminho para neutralizar a paralisia que elas podem causar.

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