O lançamento de pagamentos pelo Facebook Pay, funcionalidade que permite transferir dinheiro e fazer compras em estabelecimentos por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp, ganhou grande repercussão desde o seu anúncio, na última semana. A novidade ainda está em testes restritos, mas já movimentou o mercado.
E tanto movimentou, que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) anunciou, como medida cautelar, a suspensão da parceria entre a gigante da rede social e a Cielo. Como traz a reportagem da Revista Época Negócios, o Cade avaliou que a Cielo possui “elevada participação no mercado nacional de credenciamento de captura de transações” e que o Whatsapp detém uma base de milhões de usuários, “o que pode garantir na sua entrada um poder de mercado significante”.
Sabemos que as gigantes do setor bancário e de adquirência gozam de muita influência em nosso congresso. E ainda que estas tenham um amplo portfólio de produtos financeiros, as iniciativas do Facebook, sem dúvida, criam uma lacuna de valor em um campo onde essas empresas não podem competir diretamente.
Seria uma disrupção? Eu corroboro a opinião do professor David L. Rogers, da Columbia University, conceituada em seu livro Transformação Digital: “a primeira coisa que diferencia disrupção de competição é a enorme lacuna de valor, que pode levar a um ponto de virada ou ponto de inflexão, quando os clientes se deslocam em massa para a nova oferta”.
Estamos diante de uma nova funcionalidade em uma plataforma instalada em 99% dos celulares do país e usada pelo menos uma vez ao dia por 98% dos usuários. Em 2019, o Facebook era utilizado por mais de 130 milhões de pessoas no Brasil, onde uma em cada três pessoas não possui conta em banco. Ligando os pontos, temos uma plataforma de números astronômicos e com altíssimo engajamento, lançando um meio de pagamento. Imagine as transformações que a novidade pode provocar.
Bots poderão ser utilizados para proporcionar uma experiência de compra completa, indo desde a escolha do produto, informando o consumidor sobre o despacho da mercadoria, em que etapa do transporte o pedido está, previsão de entrega, aviso de que o entregador está na porta, confirmação da entrega e, por fim, permitirão a avaliação da experiência de compra pelo consumidor. Imagine pedir uma pizza, pagar e até enviar a gorjeta para o entregador sem sair do WhatsApp. Sem dúvidas, uma jornada com uma fluidez ímpar.
Do ponto de vista do empreendedor, por enquanto o que se ouve é algum questionamento em relação à taxa de 3,99% sobre a transação. Entretanto, com as tecnologias de bot cada vez mais acessíveis e poderosas, é preciso considerar que o uso otimizado da plataforma – com um nível adequado de integração é possível a troca de informações com o CRM, controlando estoque, logística e outras atividades – pode resultar em um custo por transação inferior para vários tipos de negócio.
É certo que podemos esperar mais novidades pela frente. Em um futuro próximo, o mais provável é que tenhamos o Facebook, Google e outros, competindo em alguns serviços financeiros com os players tradicionais em determinados segmentos de clientes, pois deve-se observar também que nem sempre uma ideia disruptiva tem amplitude total.
Sobre o autor:
Alexandre Resende atua há 25 anos no mercado de tecnologia da informação, fundador e CEO da ContactONE, empresa especializada em criar softwares cognitivos e plataformas baseadas em inteligência artificial que viabilizam a transformação digital do atendimento ao consumidor. Graduado em Sistemas da Informação, com MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV e MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral.